quinta-feira, 2 de julho de 2009

A normalidade da diferença


Apesar de ser ainda hoje um problema grave, a verdade é que cada vez mais se investe na melhoria da qualidade de vida de pessoas com deficiências. Há cada vez mais uma preocupação e um cuidado em tentar diminuir os obstáculos que estes encontram no dia-a-dia e em responder às necessidades especiais impostas por eles. Isto acontece desde que eles são bem pequeninos. Desde cedo são estimulados a vários níveis (dependendo da deficiência que apresentam), existindo até escolas especializadas neste tipo de crianças. Escolas exclusivamente preparadas para os receber e com profissionais designados para aquele trabalho. Agora levantam-se aqui dois problemas. O primeiro é que a recuperação física destas pessoas ainda é vista como a maior das prioridades dando-se uma importância excessiva a esta. Eu acho que a recuperação física é relevante, mas não que deva ser A prioridade. Penso que um bom desempenho e desenvolvimento intelectual é bem mais indispensável. Só este é o caminho para que uma pessoa com necessidades especiais tenha uma vida dita “normal”. Um bom desenvolvimento intelectual habilita estas pessoas a desenrascarem-se a todos os níveis da sua vida e a lidarem mais facilmente com os problemas causados pelas suas limitações. Além disso, uma limitação intelectual é bem mais complicada do que uma física. O segundo problema é as escolas especializadas. Até que ponto é positivo para uma criança com necessidades especiais frequentar este tipo de instituições? A evolução será, provavelmente, maior e o acompanhamento bastante melhor, contudo, não estamos a fomentar algum género de distinção? Afinal estamos a pôr estas crianças de parte e a evitar o contacto destas com outras crianças ditas “normais”. Estamos a fazer um género de triagem e a separar pessoas da mesma forma que separamos o lixo para a reciclagem. Até que ponto é que é saudável não existir convívio entre os dissemelhantes tipos de crianças? A falta de contacto com a diferença não é positiva e cria ignorância quanto ao assunto o que leva à discriminação. Não deveríamos estar a educar para a aceitação da diferença como algo normal?

7 comentários:

Joana disse...

Olá!

Falando por experiencia propria, na escola tive (pelo menos) 2 pessoas com deficiencias na mesma turma/sala/ATL e posso afirmar que acho bem melhor (sem discriminar) que alumas pessoas devam ficar am tais instituições. Foi um rapaz e uma rapariga em alturas diferentes, a rapariga era um ano mais velha que eu mas tinha corpo de bébé, crianças com 6 anos e ela com 7 ainda vivia num corpo de bébé indefeso, não creio que o seu lugar seja junto das crianças ditas "normais".

O outro caso, de um rapaz, parecia normal, desenvolvia-se "normalmente" com algumas deficiencias é claro, mas não reagia bem ao contacto com pessoas, tanto que uma vez tentou matar-me (sem exageros), estavamos no recreio e ele veio a correr para junto de mim e começou a apertar-me o pescoço com toda a força, fiquei sem conseguir respirar e indefesa... será que estas pessoas devem ficar perto das "normais"? Parece-me que não.

Mas são opiniões, falo pela voz das minhas experiencias pessoais.

Beijos

Pintora disse...

Muito bem, Cátia.. Tou a gostar..

Eu acho que sempre que possivel se devem colocar as pessoas com e sem deficiencias em escolas normais.

Só que as vezes sabemos que nao é possivel, quer pelas limitaçoes fisicas das pessoas quer pelas infraestrutas da escola.

Agora, concordo plenamente quando dizes que se deve estimular especialmente a parte intelectual das pessoas, principalmente as que têm algum tipo de deficiencia fisica grave. Eu olho para algumas pessoas com esse tipo de problemas e cho emsmo admiravel que se desenrasquem com tudo.. se fosse eu ficava parada a chorar à espera que viessem fazer aquilo por mim... sao pessoas muito fortes e que tiveram que sofrer mt para conseguir chegar a esse patamar, tenho a certeza... e admiro profundamente quem nao fica em casa a queixar se, apesar de eu ser um pouco assim e odiar! :s por isso e que as admiro tanto!

Cacau disse...

Joana: eu tb tive experiências com pessoas com necessidades especiais na minha escola, mas ao contrário das tuas as minhas foram relativamente boas. Também assisti a episódios desagradáveis de violência? Mas sabes uma coisa? Assisti ainda mais a episódios de violência que envolviam pessoas ditas "normais". Falas te do teu colega que não sabia lidar com as pessoas... Achas que é a separá-lo de ti e das outras pessoas que ele vai aprender a fazê-lo? Não creio muito, aliás acho que apenas vai piorar a situação. Quanto à tua colega que tinha um crescimento atrasado, eu tenho uma prima que anda no 3 ano e parece da minha idade (tenho 17 anos - a rapariga tem as hormonas aos saltos)... e depois? Não é uma rapariga? É disso que eu estou a falar. Temos de começar a aceitar as diferenças dos outros como algo normal.

Por isso concordo totalmente com a opinião da Silvana. Acho que se deve evitar separar as crianças. É negativo para eles, que se sentem de certa forma postos de parte; e é negativo para nós que assim não nos familiarizamos com a diferença. Mas como também aqui foi dito a verdade é que nem sempre as escolas têm condições para receber as crianças. E por isso eu acho que em vez de investirmos na construção de escolas especializadas devemos investir no melhoramento das escolas normais de forma a que estas possam dar às pessoas com necessidades especiais as coisas a que elas deveriam ter acesso por direito.

Dexter disse...

Acho que isto é como tudo: há casos e casos.

Depende um bocado do nível de deficiência da criança. Se for ligeiro, n vejo qualquer tipo de problema em integrá-las numa escola dita "normal", com crianças "normais". Lembro-me, quando andava na primária, que havia uma menina deficiente, a Diana, que apesar de ter um ligeiro atraso, acompanhava como podia as aulas, e brincava connosco às nossas brincadeiras, ainda que com alguma dificuldade, mas o certo é que brincava. E sempre se integrou bem e fazia parte do nosso círculo de amigos, frequentava as nossas casas, etc.

No entanto, se estivermos perante um nível de deficiência mais profundo, acho que deviam ir p escolas especiais, pois acho que ´só têm a ganhar. Não é que o contacto com crianças "normais" n lhes fizesse bem, mas sabes como são as crianças...às vezes são cruéis, mesmo inocentemente, e iam acabar por discriminar negativamente essa criança.

Acho que tudo depende de caso para caso.

Cacau disse...

Dexter concordo contigo. Acho que realmente essas crinças podem beneficiar mais ao frequentarem escolas especiais. Mas acho que isto acontece sobretudo porque as nossas escolas não estão preparadas para receber pessoas com necessidades especiais. Por isso volto aqui a frisar a importãncia de prepararmos as escolas para isso. Concordo também quando dizes que as crianças podem ser cruéis. Mas isso não vem da educação e da mentalidade? Isso não vem do desabito de lidar com uma pessoa com deficiencia? Por isso é que eu acho que temos de educar para a normalidade da diferença. Quando eu andava na primária nós éramos bastante maus oara quem usava óculos. Hoje isso não contece, uma criança que use óculos é perfeitamente natural. Outro caso bastante pior eram as crianças que eram discriminadas por terem pais divorciados (além de mal tratadas pelos colegas elas eram inclusivamente mal tratadas pelos próprios pofessores), este é mais um dos casos que não se verifica com frequência hoje em dia. As mentalidades mudaram e as pessoas adaptaram-se a isso. E eu acho que é isso que tem de acontecer com pessoas com deficiencia. Temos de aceitar e aprender a viver com isso. Até porque se fala tanto na nossa aceitação... a nossa adaptação a eles é bem mais fácil do que a contrária. Eles sofrem bastante para conseguirem lidar connosco no dia a dia e para viverem num mundo que, infelizmente, não está preparado para eles.

Tiago Varanda disse...

Interessantíssima estas tuas ideias, Cátia, concordo plenamente! E não são situações de agressão que justificam a permanência destas crianças em instituições, pois eu também sei o que é ser agredido por pessoas com deficiência: na minha primária (para quem leia isto e não saiba, eu também tenho deficiência visual, mas no meu primeiro ciclo ainda via) deparava-me com um colega que, ainda que não fosse da minha turma, por vezes procurava-me agredir e chegou-me a espetar com um ponta-pé na garganta (se a minha memória não me atraiçoa), pois eu tinha-me tentado esconder dele debaixo de uma mesa.
Não será, pois, pondo de parte que essas pessoas vão melhorar o seu comportamento.


Tiago

Cacau disse...

Olá Tiago,
Olá Misha,

Por aqui a esta hora? Primeiro quero começar por agradecer a tua visita e os comentários que fazes! Quanto ao texto, já o escrevi há algum tempo, mas continuo a achar o mesmo. E afirmo-o com cada vez mais certezas! Temos de trabalhar para a construção de uma sociedade de inclusão e não de exclusão. Só assim é que as coisas funcionam!

Beijos