sexta-feira, 2 de julho de 2010

Insónia


“Acordei”, hoje, com um emaranhado de palavras na cabeça. Acho que se um dia escrevesse um livro, um romance, poderia assim começar:




Hoje é só mais uma sexta das infindáveis e monótonas sextas da minha vida. Levantei-me e decidi entrar numa qualquer camioneta e partir… Não para longe, não para sempre. Partir apenas para um local que não fosse aquele, durante apenas algumas horas, algum sítio onde pudesse estar comigo com algo que sentisse que era meu. Não conhecia nenhum sítio assim! Muito menos nesta cidade triste, abandonada, desumana e degradada onde vivo! Contudo, parti pensando que qualquer coisa que me levasse dali iria ser algo bom.


Entrei na camioneta, um dia complicado hoje, onde todos os que saem à rua se juntam num mesmo sítio em busca da mesma coisa. Apesar de me incomodar profundamente decidi que queria passar pela confusão, apenas para a observar e tentar descobrir se, no meio de tudo aquilo, haveria lugar para mim.


Cheguei ao destino e sai. A multidão tentava arrastar-me, mas eu consegui afastar-me e ver tudo aquilo que queria de fora (porque só de fora é que conseguimos ter uma noção do conjunto e de tudo aquilo que ele carrega). Tudo me foi indiferente e decidi começar a caminhar. Defini que passaria alheia à angústia de todos aqueles que lutam para se mostrar e de todos os outros que apenas desejavam não ser vistos.


Caminhando, perante mim a cidade, perante mim as ruas, perante mim a selva infértil – filha do que fértil nunca foi e mãe do que fértil nunca será – porque só a vida arrasta vida consigo. Irracional, eu marcho não tendo nunca noção do chão que piso. E, à medida que caminho, a selva, vingando-se dos meus pensamentos e divagações, mostra alguns dos seus truques e armadilhas escondidas. Nunca revelando o seu pior segredo nem me deixando perceber que, um dia, aquelas pedras seriam o tudo e o nada para mim. Simplesmente porque as coisas são o espelho daquilo que nós somos. E eu, um dia, serei TUDO! E no fim? No fim, o NADA vai ser tudo aquilo que de mim resta…


E naquela rua fui caminhando, nunca percebendo que, a cada golpe, aquelas pedras me iam roubando a alma…