quarta-feira, 28 de abril de 2010

Pessoa e Camões – a disforia da euforia


Camões e Pessoa produziram dois dos textos mais emblemáticos para a visão não só eufórica, mas também disfórica do povo português.

Dois objectivos, o género de texto que escrevem e 400 anos de história separam estes dois autores. Contudo, por mais altos que sejam os muros entre eles, nada conseguirá apagar ou destruir a grande ponte que os une: a alma lusitana e o orgulho na sua nação.

Apesar de ambas as obras nos apresentarem uma visão do povo português, a sua dissemelhança é, de todo, natural. Primeiramente, “Os Lusíadas” são uma epopeia, isto é, neles são narrados os grandes feitos do povo português, nomeadamente os Descobrimentos. Trata-se de uma narrativa factual e dinâmica que tem como principal objectivo glorificar Portugal. Por outro lado, “Mensagem” é uma obra épico-lírica, onde, ao invés de os feitos portugueses serem, simplesmente, narrados, são apenas utilizados como exemplos de glórias antigas. São, assim, poemas carregados de misticismo onde o autor idealiza um novo império português – um império espiritual. A euforia de Camões e a disforia de Pessoa (não sendo esta correspondência linear e imutável, como verão) advém, sobretudo, do Portugal em que viveram. Camões viveu num Portugal glorioso, um Portugal visto como uma das grandes potências Europeias pelos feitos há pouco tempo conquistados e pelas descobertas conseguidas. Pessoa, contrariamente, viveu num Portugal decadente, derrotado e cinzento; um Portugal que espera inactivo e cansado (viveu? Será que isto faz mesmo parte do passado?) a volta de um D. Sebastião que os leve, de novo, à ribalta. Ainda assim, é notória a preocupação a preocupação que Camões demonstra na sua obra quanto ao futuro de Portugal e quanto à manutenção do império territorial alcançado, bem como a esperança de Pessoa num novo, renovado e poderoso Portugal – “É a hora!” – frase com que Pessoa termina “Mensagem” e onde é clara a sua crença de que Portugal tem tudo o que necessita para ser uma grande nação.

Concluo, então, que ambos os textos são de extrema importância, pois a História de uma nação não se faz apenas de vitórias, mas também, e principalmente, de derrotas e momentos de decadência que necessitam ser superados.

2 comentários:

Tiago Varanda disse...

Eu, patriota convicto e de firme apego ao meu país (com tudo o que ele tem de bom e de mau), não consigo resistir a deixar aqui o meu apreço por tão patriótico e bem escrito texto, no qual me revejo e sobre cuja questão nunca me tinha apercebido seriamente, apesar de conhecer minimamente estes dois vultos da nossa literatura!

Tiago Varanda

Cacau disse...

Era um trabalho e casa de português... Até que não me saiu mal!